sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Quando um desafio de J.J. Abrams cai na sua mesa

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Cristhiane: Era outubro de 2013 e um livro com as margens escritas à mão, com caneta colorida, circulava pelo editorial. Havia também muitos papéis soltos dentro dele e por isso a recomendação de tocá-lo com cuidado era repetida a todo momento, pois cartas e cartões-postais poderiam se perder. Era um tal de fazer fila e perguntar: “Posso segurar?” Ninguém sabia muito bem que história ele continha, o importante era ter alguns minutos para contemplar aquele admirável objeto. Meses depois, quando o livro chegou da tradução, a sorte e o acaso fizeram com que fosse parar na minha mesa. A preparação do texto só foi possível com acolaboração da Giu e do Ulisses, que ajudaram muito na decifração dos códigos e na coerência do texto.

Suelen: Trabalhar no S. também foi quase um acaso e sem dúvida um grande desafio. Quando entrei no projeto, quase toda a parte textual já havia sido encaminhada pela Cris. O livro ficou um bom tempo com o designer responsável por fazer à mão todas as partes manuscritas contidas tanto em O Navio de Teseuquanto nos elementos avulsos. Esse processo deu à obra uma autenticidade incrível.
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Minha leitura começou pelo texto central, a história do desmemoriado S. e sua cruzada em busca da identidade. Desconsiderei as margens no primeiro momento e mergulhei na trama de V.M. Straka que envolve guerra, incêndios e tripulantes de um navio com os lábios costurados. A narrativa onírica, que causa certa estranheza e nos remete a sensações parecidas com as que Lost despertava, por si só já é uma experiência fascinante. Fiz a segunda leitura incluindo as margens e as notas de rodapé. Foi aí que a história ganhou força e o livro virou… outro livro. Como eu precisava preparar o texto, dividi minha leitura em partes, mas o que acabei descobrindo foi que a visão do todo é essencial. As cartas, cartões-postais, recortes de jornal e fotos, por exemplo, são imprescindíveis, mas só fazem sentido quando associados ao texto das margens.
Com o texto pronto, as margens manuscritas completas e as peças avulsas finalizadas, era a primeira vez que estávamos diante do material mais próximo da versão final. A ideia então era mandar o livro para mais um revisor, apenas como experiência de leitura. Mas, adivinhem, em se tratando de S. você pisca e surgem dez mil coisas novas.Nosso revisor indicou pontos que ainda precisavam ser solucionados, e eu me vi em meio a folhas e mais folhas revendo códigos, formando frases, sublinhando notas de rodapé e tentando entender o que não dava certo.
Vale dizer que os códigos não são nenhum bicho de sete cabeças. Eles foram um grande desafio para o editorial, que precisou entendê-los e garantir que fizessem sentido em português. Mas são Eric e Jen que têm o trabalho de decifrá-los. Ao leitor cabe só se surpreender a cada descoberta deles.
Encontramos desafios em várias etapas do processo editorial. Mas em S. você nunca sabe se algo está errado ou está ali para parecer errado. Quando achamos problemas que nem a equipe da edição americana tinha identificado, isso sem dúvida deixou todo mundo muito empolgado. “Meu Deus, ajudamos a melhorar algo do J.J. Abrams!!!”
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S. é muitas coisas: experiência, jogo, história de mistério, história de amor, objeto de arte. É um livro para ser lido mais de uma vez. Um livro que instiga o diálogo, o compartilhamento de informações. Deve ser discutido, contemplado, apreendido, admirado. Compreender o jogo de cores de canetas, os saltos temporais, as notas de rodapé, as cifras escondidas, tudo isso desafia o leitor e o leva a se debruçar, apaixonado, sobre cada detalhe. O meu jeito de ler provavelmente vai ser diferente do seu. E é justamente aí que está a graça da coisa. O que vale aqui não é encontrar uma resposta certa. O grande prêmio é se aventurar pelo universo misterioso criado por J.J. Abrams.
O trabalho de edição é cheio de detalhes. Quando se faz qualquer alteração em um livro, é preciso checar tudo. Agora imaginem fazer isso em uma obra como S. Levando em conta como todos aqui na Intrínseca ficaram maravilhados com o resultado final, com certeza o trabalho valeu a pena. E esperamos que vocês gostem do S. tanto quanto a gente. Toda a equipe envolvida no projeto se esforçou muito para que a edição brasileira não devesse nada à americana. E ela está linda mesmo.

http://www.intrinseca.com.br/blog/2016/01/quando-um-desafio-de-j-j-abrams-cai-na-sua-mesa/


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